15 de jan. de 2010

Fortaleza, 14/06/08

Sábado à noite


Havia nuvens no céu, tantas que mal se podia ver a lua. O vento soprava forte como se a qualquer momento a chuva fosse tocar o chão impiedosamente. Ainda assim, não era como se a noite estivesse fria. Estavam sentadas na escadaria, apoiadas com folga nos degraus, rindo, e o riso aquecia seus corações. Porque em noites como aquela, que você simplesmente não tem mais nada pra fazer, tudo que realmente importa é ir a um lugar agradável onde a brisa faça carícias em seus cabelos e você possa olhar para pessoas que fazem seu coração sorrir.
Falavam sobre a vida, porque a vida era tudo que conheciam. Falavam de coisas e de pessoas, e de medos e comportamentos, e a noite corria, como um longo filete de vida sobre a infertilidade daquela terra de pessoas mentalmente estéreis e corações vazios. Porque seus pensamentos e suas idéias era tudo que tinham para mudar o mundo. O seu mundo. O mundo inteiro era muito grande, mas o seu mundo era do tamanho exato de seus corações, e seus pensamentos podiam mudá-lo e redefini-lo conforme ficavam mais firmes e fortes.
Era verdade, ainda não tinham firmeza suficiente. Isso porque ainda era só o começo. O começo de uma longa jornada de construção. Uma jornada na qual não estavam sozinhas, um jornada na qual tinham umas às outras e coragem para acompanharem-se até onde fosse possível ou preciso.
Mas a cada noite como aquela, seus passos se tornavam mais decididos, sua vontade ganhava mais audácia, e seu caráter e personalidades, cada uma a seu modo, e com um pouco do modo umas das outras, ganhavam uma forma mais precisa e audaz. Isso porque noites como aquela eram capazes de unir o tudo e o nada dentro de cada uma, e tornar a sensação universal.
A solidão finalmente se tornava um pouco mais distante. Não havia ausência naquele instante, na falta de alguém para abraçar num sábado a noite, mesmo que talvez a dor fosse transparecer mais tarde, quando finalmente se encontrassem perdidas em seus próprios pensamentos. Mas num mundo como aquele, numa vida e numa época fugaz como aquela, o que valia realmente era cada momento em si, independente de como e qual fosse. E naquele momento, o mundo delas era apenas elas mesmas, e suas famílias, e suas histórias, e seus passados e futuros, e seus planos e desejos, ou até mesmo sua solidão.
Eram diferentes em quase tudo, na maioria das coisas que edificam um ser. Suas opções, suas decisões, suas reações, seus jeitos de pensar. Eram ângulos diferentes da mesma realidade, da mesma cidade, da mesma batalha diária. E talvez por isso se resolvessem tão bem. Talvez por isso se sentissem tão bem em suas conversas, e em suas aventuras pelas ruas da cidade, e coisas desse tipo. E talvez por isso seu sábado a noite solitário tenha se tornado tão mais feliz...
A noite correu, entre risos e histórias e planos. De repente, o peso a se carregar parecia mais leve. E quando os telefones tocaram, e por eles veio a ordem de voltar pra casa, não havia mais tanta angústia ou carência, mas sim a lembrança de uma noite tranqüila e feliz pra lembrar na manhã seguinte.
Assim, nesse ritmo, os dias iam passando e passando, e antes que percebessem, o semestre beirava o final...

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