De repente, o silêncio ganhava forma e se encontrava nas palavras. As palavras que lhe foram inimigas por tempos. De repente, assim mesmo, sem aviso, sentiu de fato o tempo parar, o mundo não mais rodar, a cabeça não ponderar ou questionar ou pensar ou esperar e sim silenciar. A boca não se movia. Só as mãos frenéticas como não há tempos criavam desenhos, antes esquecidos, num fundo branco de solidão. Porque, de repente, sentiu mesmo tudo junto. E foi como se nada sentisse. Como pudesse olhar, de outro canto, enquanto alguém vivia ela. E pode ver, tão bem como se realmente sentisse, que rasgava-se-lhe a pele.
E esperou que o sangue saísse jorrado pela força da pressão de tanto tempo ali, guardado. Esperou que explodisse a vida esparramada que não sabe ser se não confinada. Esperou que lhe doessem os nervos, que lhe queimasse por dentro tudo aquilo que entrava, saindo. Mas não doeu. Não jorrou. Não queimou. Nem sequer ardeu. Assistiu-se espirrar tímida, depois escorrer pouca, por fim pingar escassa até a última gota, mas não sentiu. E no fim pensou que a quase-nenhuma-pressão talvez não fosse da vida que pensava que tinha que, por não sentir, chegava a de fato acreditar não ter. E como não descobria, achou que não devesse pensar. E como não tinha escolha, resolveu deixar pra lá.
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