7 de jan. de 2010

Fortaleza, 20 de julho de 2009.

Minha cabeça ainda gira no ritmo das músicas que primeiro ouvi da banda no restaurante, depois, no carro de volta para casa. Abria o vidro, deixando o vento brincar entre meus cabelos e a música soa mais baixo no carro pequeno. Você subia o vidro de volta, era perigoso andar com o vidro baixo àquela hora da noite, e me trazia de volta para o lugar de onde eu queria fugir. Sei lá por que queria fugir! Talvez porque realmente não estivesse bem com as pessoas ali presentes, talvez porque apenas quisesse um pouco de silêncio o qual poderia ser encontrado num horizonte além das torres comerciais da Aldeota. Realmente não sei onde queria estar naquele momento, sei que não era ali.

Você estava lá. Maquiada, de roupa e sapado novo, mais linda do que o usual. Porque é verdade que as pessoas ficam mais bonitas quando se arrumam. Quando você se arruma daquele jeito, chama atenção para a sua beleza que é natural como você, por educação ou não, disse ser a minha. Não duvido que realmente pense assim, mas as coisas soaram estranhas quando foram ditas depois de eu notar que eu usava uma calça já meio surrada e uma sandália de dedo, delineador e a blusinha nova, enquanto você desfilava ao meu lado de sapato de salto, uma blusa da moda e a maquiagem simples que realçava seus olhos. Você estava mesmo mais linda. Não havia como não sentir a diferença que havia entre o toc-toc que você provocava e o chic-chic que fazia minha sandália de borracha e agora confesso que eu quem deveria procurar estar a altura da sua produção, e não o contrário, como você disse no carro.

Eu amo você. Muito. Amo de uma maneira que se me tivessem perguntado há alguns meses, eu provavelmente teria rido e negado, dizendo não ser possível. E eu me sinto bem ao seu lado, mesmo quando eu pareço uma menininha, e você, uma mulher. Mas não posso negar que esse foi o primeiro problema da noite. Fora, claro, o fato de eu não conhecer a aniversariante, mas não fez tanta diferença assim, já que estávamos em um restaurante e a menina praticamente não deu conta de mim.

Engraçado, senti uma ponta de inveja porque não seria notada como você, mas quis sumir quando chegamos à festa. Vai entender as mulheres! Sei, entretanto, que você me entende.

Quanto aos seus amigos, já não faz diferença. São seus amigos e não me imporei a isso. Não espere que eu saia muitas vezes com vocês, entretanto. Uma vez por mês é tolerável, mais que isso exigiria uma boa vontade com a qual não fui abençoada. Enforco-me para respeitar você e sua vida ao máximo e a isso se acrescenta não criar desavenças com seus amigos e com sua família.

Essas palavras, se chegassem aos seus ouvidos, imagino, seriam deixadas de lado. Mas não correrei o risco de não serem e causar problemas, ou de serem e me causar desconforto. Esta é apenas uma, talvez a primeira, talvez a única carta de mim para você que você nunca receberá. E se um dia você vier a saber o que digo aqui, será olhando-me diretamente nos olhos, ou seja, provavelmente nunca.

Abraços fortes e os pensamentos mais doces e carinhosos a você, meu doce amor.

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