16 de jan. de 2017

Antídoto para a esperança

Como consertar o que nunca estivera quebrado? Perguntava-se olhando para a noite que crescia janela afora. E por mais que aquilo significasse romantizar algo tão banal, permitia-se, longe de tudo e todos - quiçá dos olhares da própria lembrança -, entregar-se àquela sensação que havia muito a consumia em silêncio. Romantizar, poetizar, chamassem como quisessem, não podia mais era mascarar a dor que trazia por dentro. Era banal, sim! Morre-se de amor todo dia. Por que ela não haveria de morrer também?
Quis ser simples, repetindo para si o quanto tudo era fácil, calando a voz da ansiedade que dominava como ferrugem suas estruturas. Quis ser outra, uma que não morreria ou que, caso morresse, seria apenas por algumas horas e às custas de uma única lágrima silenciosa. Quis ser lago, enquanto trazia em si o mar em ressaca. Brisa, porém, era toda tormenta.

Verdade que já fora tempestade maior. Quando encontrava-se presa nas lembranças, buscando o ponto exato em que tomara a estrada errada, quando estava distante procurando entender aquela assombração que se lhe apresentava com o nome de passado, envergonhava-se do quanto já fora tola (ou mais do que agora, pelo menos). Faltava-lhe força para sangrar de amor, e carne para oferecer aos leões, tanto a oferecera de graça antes. Agora era como se tivesse calma para esperar a nuvem passar, e como se quisesse, com sabedoria - ou ao menos parcimônia -, escolher a corrente certa para seguir, e a batalha cuja vitória parecia mais provável. Mas nas veias ainda lhe corria o sangue em torrentes, e ansiava sentir jorrar-lhe a vida pelas faces. Ainda queria, louca que era pela vida.

O que fazer então? Julgar-se por temer o que não ainda conhecia? Porque não há livros ou filmes suficientes para indicar o caminho pelo terreno incerto que é o amor.

Parecia, afinal, não haver antídoto contra a esperança.

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