10 de jan. de 2011

Dez do um de dois mil e dez

Quando você conta uma mentira, fica repassando a história na cabeça constantemente, tentando encontrar uma falha e pensando em maneiras de consertar da próxima vez que tiver chance. Você precisa lembrar de cada detalhe, para não cair na própria armadilha. Mas também precisa saber que não pode haver muitos detalhes, senão a história fica perfeita demais e perceptivelmente irreal. E você não pode correr o risco de ser descoberto nem, em grande parte das vezes, magoar alguém.
Chega um momento em que você não sabe mais por que contou, nem por que manteve tudo aquilo. Mas dizer a verdade significaria perder tudo. É nessa hora que você começa a desejar que sua história tivesse de fato acontecido e é a partir de então que você passa a trabalhar pra fazer com que ela seja verdadeira dali em diante. Não é mais fácil do que admitir ser mentira, não.
Tem uma história que eu queria que fosse mentira. Por isso, repasso todos os detalhes de que me recordo a procura de uma falha, algo que eu possa usar como argumento que me ajude a trazer tudo a baixo. Mas é tão verdadeira que sei que nem minha imaginação poderia criá-la.
Essa verdade me dói, embora eu não tenha contado mentiras sobre ela. Mas admití-la significa uma derrota sem tamanho.
É estranho porque essa palavra sempre me faz pensar que quando se perde uma corrida, sempre pode se vencer a outra. Mas a derrota continua lá. Talvez não existam derrotas mensuráveis ou maiores que outras. Existem apenas as que não são com a gente.
Não estou na fase de pensar positivo ainda. Espero que ela chegue logo, embora também espero que não, como forma de punição. Não sei o quanto podemos nos punir por algo na vida. Mas acho que a punição só existe quando ainda existe a vontade de mudar as coisas. Talvez isso seja superar: saber que algumas coisas não podem ser mudadas, por mais que se queira e se tenha a boa vontade de esperar.

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