23 de mar. de 2011

14/03/11 noite

é com pesar que aqui escrevo
pesar de uma voz que há muito cala
silêncio! há que se fazer segredo
desse fogo que por dentro se espalha.

falo do que só conheço por sentir
um sentir tão forte que maltrata
mas falar por falar, omitir
nada disso mais me arrebata.

um cantar esquecido pelo tempo
pelos cantos de um escuro de razão
de um estado mantido já sem contento

e minha alma hoje grita, perde o chão
preciso de calor, de som e movimento
por esse amor que assola o coração.

***

quero que essas letras sejam vistas
e apreciadas por quem nada vai dizer
busco a rima e a forma ariscas
para ouvir que bem fiz o bom fazer.

quero uma vez mais correr a pena
pelo branco do papel a me escrever
em versos, frases tortas ou poemas
e o sangue ardente a escorrer

pelos olhos sobre a pele
pelo peito, quente e lento
bem de leve

e a mão, sem alento
sobre a neve
corre solta deflorando o sentimento.

***

esta noite falo de ardor
um tão leve que não reconhecerão
um que nada tem de fervor
um que vem do toque da mão

tão sutil e ainda tão ardente.
conto o que para mim não tem sabor
o que em mim até hoje foi latente
tanto que aos poucos dou a cor.

falo e engraçado pouco sei
disso que já não posso calar
pensando ser isto o que sonhei.

e numa noite fria a vagar
hei de ver o fantasma que criei
de uma brasa que o calor vai apagar.

***

se o meu canto tiver um dia valor
a qualquer um a quem sentido possa fazer
que não se busque em meu corpo essa dor
que há muito será pó este viver:

esta que vos fala nunca houve
em qualquer dimensão, qualquer verdade.
se querem uma palavra que conforte
essas acepções de realidade

esqueçam. simplesmente.
que me recuso a justificar minha voz
me nego a dar a face ao sol nascente.

assertiva em ciência se faz
não em palavra, palavra que desmente
a verdade que ao vento se esvai.

***

pois que joguem fora, arremessem
aos porcos, não dou conta
faço versos ponto. não dissertem
sobre o que qual nó cego não tem ponta.

não, deixem ir, descontentes
que não fazem eles mesmos suas rimas
querem sentido e razão, inocentes
não sabem que são as palavras feito guimbas:

bem ou mal o que fica é o sentimento
prazer ou dor cause a efêmera combustão
que importa fazer tanto acabamento?

essa mancha que se leva no pulmão
não se vê nem se cura, sofrimento
de palavras que se encontra pelo chão

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