“Amarei para sempre?”, você me perguntaria, mas não gostaria da
resposta: "Você não é mais tão nova para acreditar que se ama para
sempre.]'
“Mas não posso deixar de acreditar!”, você
responderia, e então seria eu a tirar uma lição: “Agarre-se a
isso. Não deixe que lhe digam o contrário.”. Então, percebendo meu
semblante de melancolia, você questionaria: “Você já sofreu?”, ao que
minha resposta mais uma vez não seria do seu agrado: “Talvez ainda não
tudo o que preciso.”; “Por que alguém precisaria sofrer?”, seu olhar
questionador não ignoraria essa. Porém, ainda que eu tivesse essa
resposta, não lha poderia dar. Nesse momento, eu me calaria.
Incomodada
com o silêncio, pois lembro que aprendemos a valorizá-lo anos mais
tarde, você tornaria a falar de amor: “E a quem confia seu coração
agora?”. Dessa vez, você não compreenderia minha demora em responder,
nem entenderia quando eu explicasse que meu coração não está mais preso a
outro. “Meu coração
está confiado a mim mesma”, eu lhe diria, “e essa é a maior
responsabilidade que já assumi.”. É provável que tal afirmação fosse
deveras assustadora e inquietante para você, e precisaria digeri-la
lentamente. O silêncio se faria presente mais uma vez, para meu agrado,
enquanto mil outras perguntas lhe tirariam o sossego.
“E de quem você
cuida?”, voltaria a me perguntar, incrédula de tudo o que lhe expusera
antecipadamente. E mais uma vez era provável que me julgasse louca me ouvindo dizer: “De mim mesma.”. Poderia ajudá-la a compreender,
discorrendo com precisão sobre por que as pessoas não dependem umas das
outras e que o amor vem de dentro e não de fora. Mas lembro que, à essa
idade, esses sentimentos já despontavam e afligiam. Julgo que os
alcançaria sozinha.
A bem da verdade, haveria pouco que eu pudesse
lhe ensinar. Talvez a ouvir mais sua própria mente e a confiar mais em
seus instintos. O resto, você aprenderia, quiçá, melhor e mais rápido do
que eu. Não me arrependeria de dedicar a você algumas horas todos os
dias, mas você, inquieta se bem me lembro, não teria paciência para as
minhas sobriedades. Não seríamos boas amiga, você e eu. Seríamos, no
melhor dos casos, colegas de trabalho que estão unidas pela mesma causa,
mas que seguem por caminhos distintos. Nossos objetivos são outros, e,
vale ressaltar, você ainda os chama de sonhos. Mas bem que gostaria de poder
olhar nos seus olhos e sentir de novo aquela chama que um dia me
consumiu e que, a você, esperamos, consuma até o fim dos dias. E, num
rompante de curiosidade, na crença de que olhar para trás me ensinaria
sobre o presente, me permitiria perguntar: “O que te arde?”, para,
desanimada e desesperançosa, sabendo-me preguiçosa para esse tipo de empreitada, ouvir sua voz, forte, dizer “Tudo!”.